Rua Engenheiro Privat, onde se localizava o Hotel São José. Foto: camocimnet.com.br |
O ano
era 1958. Camocim era destino de levas de retirantes que fugiam da grande seca.
O Sr. João Miguel com suas duas filhas adolescentes Maria e Tereza, frutos do
primeiro casamento e outros dois menores da sua companheira de então chegam à
cidade, oriundos do Piauí tentando driblar a fome. Tereza prefere ficar com a família de
Sr.Moreira no KM-08. João Miguel arruma uma tosca morada de roça lá para as bandas
do São Brás (onde hoje fica a COHAB) e arranja emprego na Estrada de Ferro de
Sobral, roçando as margens da ferrovia. Maria vai trabalhar na
casa da Família Menescal (Chico Panair). Hoje, aos 70 anos, Maria é uma senhora
marcada pelo trabalho doméstico, que cuida da sua casa e de quem chega nela,
realizando os afazeres próprios de uma dona de casa. As lembranças do trabalho
árduo em casas de família e em hotéis daquele tempo se confundem com o cansaço
de mais um dia de lida, varrendo, lavando, cozinhando. Exímia costureira, já
não cose mais. Com mais nitidez, lembra a faina cotidiana que era trabalhar no
Hotel São José, de propriedade do Sr.Orlando, funcionário da Alfândega e Dona
Carmelita, a esposa e cozinheira. Dezoito quartos tinha o hotel que ficava na Rua da Estação (Rua
Engenheiro Privat). Ganhava 250 cruzeiros por mês. O Hotel São José era frequentado pela oficialidade dos navios ancorados no porto, aviadores de carreira, famílias em férias. Folga somente aos domingos quando o movimento era pequeno. Na retina de Maria, o burburinho das tardes-noites da Praça da Estação. Maria não é um personagem e esse texto não é um conto, mas a crônica de vida de minha mãe, saudosa a lembrar de tempos duros e bons com um sorriso no canto da boca.
Bela crônica!
ResponderExcluirAmigo, li e re-li sua crônica. Lendo eu ia gostando e imaginando talvez uma pessoa conhecida ou um personagem qualquer que o tivesse inspirado. Mas quando cheguei ao final, percebendo que se tratava de vossa honrada mãe a qual conheço de vista, então senti vontade de ler de novo. Desta vez a leitura ja foi melhor porque enquanto ia lendo, também ia vendo sua imagem com os olhos da mente. Ler uma crônica como esta é sempre uma boa terapia para nossa imaginaçao. Parabéns!
Esse blog é excelente! Como historiador, fiquei curioso! Tenho pesquisado muito em jornais antigos e visto muita coisa interessante de Camocim!
ResponderExcluirSou viçosense e me preparo para lançar nos próximos dias meu livro "Viçosa do Ceará: Política e Poder", no qual cito muitas vezes a relação histórica entre Viçosa e Camocim!
Eônio Fontenele
eoniofontenele@bol.com.br
caro Eônio, realmente Camocim e Viçosa estão visceralmente ligados pela História. Caso queira mandar alguma coisa,fique à vontade que publicaremos como texto seu.
ResponderExcluirPois então me mande o seu e-mail, meu caro! Quando for lançar meu livro (que tá perto!), gostaria de enviar pra você o convite, até para que seja divulgado.
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