Passada a
primeira etapa das eleições de 2014, cada vez mais a tecnologia toma conta do
embate eleitoral. No mesmo dia temos os resultados das urnas e vitoriosos e derrotados
não são expostos à uma tensão maior de espera dos seus esforços de campanha. Os
eleitores já estão sendo identificados pela biometria diminuindo sensivelmente
as fraudes. Mas, nem sempre foi assim. Sou do tempo em que a vitória ou a
derrota dos partidos e candidatos só era conhecida após três dias, no caso de
Camocim. A central de apuração era no então prédio do INPS e a contagem era
feita voto a voto, nas cédulas de papel, e as diferenças transmitidas por meio
de bilhetes jogados do alto para a população que se aglomerava nas imediações
ou então pelos informes dos repórteres das rádios ligadas aos grupos políticos Cara Preta e Fundo Mole - Radio União e Pinto Martins, respectivamente. Quando
um partido se distanciava na contagem, o desânimo tomava conta dos radialistas
do partido que estava perdendo e as atualizações dos resultados para estes, eram
um verdadeiro calvário a ponto de desistirem antes de finda a apuração. Mas se
voltarmos ao inicio do século XX, as eleições não tinham essa exploração
midiática. Os resultados eram praticamente feitos nas alcovas das repartições
públicas, à bico de pena, como se dizia antigamente, por pessoas ligadas ao
partido que estava no poder. Embora com caráter anedótico, o jornal A Esquerda de Fortaleza de 1928, traz um
episódio escrito na coluna Respingos,
assinada por um certo H.M, que ilustra
bem como foi decidido os destinos políticos de Camocim naquele ano, mas que
serve para qualquer lugar. Diz o nosso colunista:
- Senhor
coronel o homem foi derrotado barbaramente: gemeu o escriba.
-Quantos votos a mais?
-Duzentos, afora as cédulas rasgadas.
-E você fez o que seu palerma.
- O que pude. O pessoal do cemitério votou todo, mas
falta ainda gente e a cabeça não ajudou.
- Tolice homem. Vamos. Escreva lá: João Silva.
- Já votou: Tartamudeou
o outro.
- Pancrácio Pimenta.
- Serve.
Os nomes sucederam-se numa cantilena
monótona até de manhã quando o coronel inquiriu:
- Uns dois,
- Ponha lá!
- Não posso mais estou com a munheca dormente.
O coronel escreveu os nomes restantes e o candidato
situacionista foi eleito...
Se pudessem, com certeza ainda haveria políticos que
usariam deste expediente.
Fonte: Jornal A Esquerda. Fortaleza-CE. 31 de julho de 1929, ed. 91, p.6.
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