terça-feira, 7 de junho de 2011

OS COMITÊS ANTICOMUNISTAS EM CAMOCIM

Vez por outra sou criticado e até desacatado por comentaristas no blog Camocim Online quando o Tadeu Nogueira resolve repercurtir as matérias que se referem à militância comunista em Camocim, postadas no "Pote de Histórias". Uma pesquisa acadêmica séria, apesar de feita por pessoas que tem suas preferências ideológicas, não deve fazer proselitismo. No meu caso, ao enfocar a militância comunista, tive que ver o embate e o combate a essas ideias. Neste sentido, a pedido de meu orientador, escrevi na época o verbete abaixo, incluso no DICIONÁRIO CRÍTICO DO PENSAMENTO DA DIREITA. Idéias, instituições e personagens/ organizadores: Francisco Carlos Teixeira da Silva, Sabrina Evangelista Medeiros, Alexander Martins Vianna. – Rio de Janeiro: FAPERJ: Mauad, 2000, p.91-2.

COMITÊS ANTI-COMUNISTAS

Surgem no Ceará como conseqüência da campanha anticomunista promovida em especial pela Igreja Católica através de seus jornais, principalmente, O Nordeste de Fortaleza e Correio da Semana de Sobral. Desde a década de 1920 a reação católica ao comunismo no Ceará manifestava-se através de organismos patrocinados e inspirados pela Igreja católica, que se abrigavam nas associações pias (Liga Feminina de Ação Católica, Congregação dos Moços Marianos, Juventude Católica, dentre outras) com o objetivo de combater o chamado “perigo vermelho”, a “hidra de Moscou”, o “regimem de Stalin e Lenin” - expressões estas bastante correntes nas páginas dos jornais acima referidos. (v. Anticomunismo) Exemplo de organização desse movimento denominado Ação Católica foi Liga Eleitoral Católica –LEC, que no Ceará, tornou-se efetivamente um partido político de direita, abrigando os seus mais diversos setores, apoiando e recomendando candidatos, vencendo eleições. (v. Liga Eleitoral Católica no Ceará)

No período da efêmera legalidade do Partido Comunista, experimentada entre 1945-47, os comitês anticomunistas intensificaram o embate de ideologias, uma vaez que pretendiam conquistar o operariado para as suas hostes e, conseqüentemente, evitar que os comunistas plantassem sua semente nas “almas” dos operários. (v. Rerum Novarum) Portanto, para fazer frente às promessas de futuro apresentadas pelos comunistas, a Igreja buscou também realizar alguma ação concreta no sentido de atender materialmente e espiritualmente os “pobres incautos”. (Baderna & LE BOM, Gustave) Por isso mesmo, os comitês anticomunistas eram sempre instalados naquelas cidades onde o Partido Comunista possuía alguma base e desenvolvia algum trabalho de organização e assistência aos operários. A instalação de suas bases se dava após uma “cruzada” de evangelização, que durava por volta de uma semana, durante a qual os religiosos envolvidos visitavam as periferias das cidades, ministrando aulas de catecismo, realizando comícios, instalando postos de distribuição de medicamentos, arrecadando alimentos, entre outras iniciativas. Depois de criado este campo prévio de instalação, eram os comitês que passavam a realizar este trabalho. (v. Ideologia) As Semanas Sociais, como ficaram sendo chamadas esses eventos, tinham na área de jurisdição da diocese de Sobral (zona norte do Ceará) a sua maior penetração, sendo o Monsenhor Sabino Loyola o líder católico de maior proeminência, visto que nessa região, cidades como a própria Sobral, Viçosa do Ceará, Cariré, Crateús e, principalmente Camocim, tinham uma militância comunista bastante atuante. O jornal Correio da Semana teve papel destacado neste processo, dando ampla cobertura a essas semanas de catecismo e a posterior atuação dos comitês anticomunistas, cuja tática era de difundir um terror generalizado sobre os perigos do comunismo através de textos jornalísticos. Notadamente falseadas, as imagens criadas sobre a Rússia Soviética surgiam aos borbotões nas páginas desse jornal que ganhavam ares verossímeis por serem o resultado de supostos relatos de “enviados especiais” que teriam visto in loco as agruras do povo soviético. (v. Alteridade & Inimigo) Assim pareciam justificadas a luta contra o “perigo vermelho” e a organização das semanas sociais, que quebravam o cotidiano das cidades escolhidas para serem o seu palco.

A composição dos comitês anti-comunistas seguia também a tradição hierárquica da Igreja. Se tomarmos como exemplo, o comitê instalado em Camocim, veremos que o mesmo é composto pelas autoridades municipais, membros destacados das famílias tradicionais, enfim, o conservadorismo desde os tempos da LEC. (v. Conservadorismo no Brasil República) É essa composição que deverá agir no sentido de revelar a “verdade” dos fatos sobre o comunismo, são esses membros os “escolhidos” para atuarem junto à população “ignara”, “incauta”, que não sabe discernir sobre sua própria vida e, em determinados momentos, tornam-se o "partido da ordem". (v. Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade & Ação Social Brasileira).

OBS:

Os termos sublinhados são chaves de outros verbetes que de alguma forma remetem ao tema Comitês Anticomunistas, publicados na mesma obra.

FOTO: faperj.br


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