terça-feira, 14 de junho de 2011

NO MAR E NO AR DE CAMOCIM


Camocim experimentou significativo progresso entre as décadas de 1920 a 1950 proporcionado além da instalação de repartições públicas estaduais e federais, alguns melhoramentos e pioneirismos associados à prosperidade da cidade, o que demarcava sua importância no cenário estadual. A cidade era servida por rotas regulares de vapores e navios que tocavam os portos do norte e do sul do Brasil e de linhas estrangeiras. Para ilustrar, temos abaixo o anúncio antecipado dessas rotas e escalas para o mês de janeiro de 1927, no jornal A Razão:

NO MAR E NO PORTO

Vapor Uno – Sahiu do Rio de Janeiro a 1 do corrente, sendo aqui esperado a 26 deste.

Vapor Campeiro – Carregará no dia 20 para Porto Alegre e escalas.

Vapor Itapoan – Carregará a 24 para Porto Alegre escalando somente em Recife, Rio de Janeiro, Santos, Rio Grande e Pelotas.

Vapor Itapeuá – Chegará neste porto procedente de Recife, a 25 do corrente sahindo a 26 para Belém e escala.

Vapor Bremenhaven – É esperado neste porto a 5 de janeiro próximo, recebendo cargas directamente para os portos de Havre, Antuérpia e Hamburgo e com transbordo para os demais portos do continente europeu. [1]

Além dos vapores, os aviões também faziam seus roteiros incluindo Camocim em suas rotas. No mesmo jornal, vê-se a programação dos vôos:

Transporte Aéreo

É o seguinte o horário da Panair atualmente em vigor. Horário dos aviões da Panair do Brasil S/A.

RUMO SUL

DOMINGO – às 11 horas não escala em Fortaleza.

TERÇA – às 11 horas com escala em Fortaleza.

RUMO NORTE

SABADO – às 11 horas, não escala em Fortaleza.

SEGUNDA - ás 11 horas, com escala em Fortaleza.

MALAS – Fecham-se às 9 horas, para qualquer sentido.

Avião Militar

RUMO NORTE

SEXTA-FEIRA – Fechamento das malas 5ª. Feira às 16 horas.

ESCALA: Parnaíba, Terezina, Belém, Floriano, Campo Maior e Peripery.

RUMO SUL

SABADO – Fechamento das malas 6ª. feira às 15 horas.

ESCALA – Acaraú, Fortaleza e Rio de Janeiro. [2]

Algumas das empresas aéreas como a Panair do Brasil, com sua frota de hidroaviões, construiu estrutura de apoio em Camocim, ainda hoje podendo se ver algumas dessas instalações, fazendo com que a cidade se notabilizasse como pioneira no transporte aéreo no interior cearense. Os anúncios dos jornais da época se prestam como uma excelente fonte para se perceber a importância desse movimento do porto para a economia da região. Veja-se, por exemplo, o que o jornal “A Lucta”, publica:

Movimento do Porto de Camocim.

- Commandatuba, da Companhia Bahiana, sahiu do Recife a 3 do corrente devendo passar a 7 ou 8 para Amarração, de onde regressará para o sul, com escala por Camocim a 10 ou 11.

- Pihauy, da Comercio e Navegação, esperado do Rio, de onde sahiu a 29, a 18 ou 20.

- Cururupny, da Maranhense, passou ante-hontem para o Recife, de onde é esperado a 25.

- O vapor Sobral está em viagem para o México, deve ancorar em Camocim, onde carregará para o Pará nos primeiros dias de junho.

- O paquete Parnahyba está em reparos em Belém, de onde em breve sahirá a fazer sua linha de Camocim a Belém. [3]


[1] A Razão. 18 de dezembro de 1927, Camocim-CE, p. 4.

[2] Id. ibidem.

[3] Jornal A Lucta, 07 de maio de 1914. Sobral-CE, p.02.

FOTO: Vista aérea de Camocim. Vando Arcanjo

Um comentário:

  1. Até a metade do século XX as grandes distâncias só eram vencidas por via aérea e ou marítima.

    Os ricos viajavam de avião e os pobres viajavam de vapor.

    Com sua localização previlegiada Camocim passou por uma fase de desenvolvimento alicerçada pelo porto e pela ferrovia.

    Os vapores (navios) eram relativamente pequenos se comparados aos grandes cargueiros da atualidade, porém eram proporcionais a quantidade de carga movimentada na época.

    Depois da construção das rodovias asfaltadas e da modernização de ônibus e caminhões as distâncias diminuíram e o transporte de passageiros por via marítima ficou reduzida aos cruzeiros.

    Camocim antes previlegiada por sua localização passou a ser uma cidade fim de linha onde só vai quem tem algum interesse específico.

    Até a ferrovia sucumbiu por falta de atividade econômica.

    Muitos culpam os políticos pela desativação do porto e da ferrovia esquecendo do progresso, da modernidade, que exigem meios de transportes mais eficazes a um custo cada vez menor.

    Poucas pessoas estariam dispostas a embarcarem em um navio de linha para Belém ou Fortaleza onde se levaria o trípulo do tempo comparado com um ônibus e a um custo bem mais elevado.

    No tocante a ferrovia é inconcebível atualmente se ter uma ferrovia para pequenas cargas, dado que o custo da tonelada transportada por kilômetro ficaria inviável.
    O mesmo critério é adotado para o transporte de passageiros.

    Por muitos anos eu particularmente culpava a falta de prestígio dos nossos políticos, os quais em campanhas eleitorais prometiam a reativação do porto e da ferrovia.
    Contudo, é necessário se ter uma visão macro de todo o contexto que envolve esses dois empreendimentos para podermos nos concientizar de que ambos são inviáveis economicamente.

    Fco. Souza

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