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Pinto Martins. Fonte: Revista da Semana, RJ, nº 30, p25. 1927. |
Quando Dona Maria Araújo do Carmo Martins começou a sentir as dores do parto, uma chuva vinda de leste prenunciava mais um aguaceiro daqueles de mês de abril. Ainda bem que o ano era 1892. Se tivesse sido quatro anos antes teria enfrentado além da seca, um terrível surto de febre amarela que ceifou a vida de 29 camocinenses. Pelas atividades do esposo, Antônio Pinto Martins, natural de Mossoró, sua estada em Camocim se ligava à exploração do sal, tanto que, foi só o rebento nascer que o mesmo fora convidado para representar a Companhia de Salinas Mossoró Assú no Rio Grande do Norte. Mas, como era Camocim em 1892, quando Euclydes Pinto Martins nasceu? Era um município do Estado do Ceará e sua população mal passava dos 6.000 habitantes (no censo de 1896, tínhamos apenas 6.667 almas, como se dizia antigamente) e apenas 369 eleitores qualificados, cinco vereadores e dois distritos. A Guarda Municipal, também fundada em 1892, compunha-se apenas de cinco praças, O ensino público restringia-se a uma escola noturna para adultos, fundada em 1º de maio de 1890. O mercado, defronte à casa dos Martins, (onde hoje funciona a Biblioteca Pública) além de uma cacimba, um curral de madeira, um cemitério e um açude em Barroquinha eram os únicos bens imóveis do município. Ainda não havia o Farol do Trapiá a sinalizar a entrada da Barra do Camocim, posto que o mesmo só seria inaugurado em 1895, no dia 15 de novembro. A arrecadação da Meza de Rendas não passava dos duzentos contos de réis. Se o futuro aviador tivesse se batizado em Camocim, teria sido pelo padre encomendado Francisco Ignacio da Costa Mendes. Para ir até o final da linha da Estrada de Ferro em Sobral, de primeira classe, que naquela época findava na cidade do Ipu, distante 216km de Camocim, o sujeito teria que desembolsar 12$300 réis. Entre os principais funcionários da ferrovia, se destacava entre os telegrafistas, Austrieliano Fonseca Coelho, entre os conferentes, Júlio Cícero Monteiro, fiéis de estação, Alexandre Carlos de Vasconcellos, condutor de trem de 1ª classe, Manoel Luiz de Sampaio. As correspondências dos Correios ficavam a cargo do agente Joaquim Francisco Coelho. As cargas que chegavam nos vapores oriundos das províncias do norte e do sul do país e do estrangeiro, desembarcavam no trapiche da Companhia Maranhense, inaugurado quatro anos antes (1888) quando a escravidão era abolida em todo Brasil. Em janeiro de 1892, depois de uma breve estadia no Porto de Camocim para reparos, a barca norueguesa "Theodor", capitaneada por A. M. Andreassen, partiu para o Pará. Na década seguinte, outro norueguês, o Capitão M. L. Lorentzen fundava em Camocim a sua companhia com os vapores Camocim, Sobral, Ipu e Cratheus. Dois anos depois do nascimento de Pinto Martins, o jornal granjense "A Reforma", fazia a leitura da conjuntura dizendo que: "Não foi tanto a corrupção dos nossos homens de Estado nem a má conducta do soberano deposto que produziram a queda da Corôa, sinão a ausência de tradições monarchica que occasionou, talvez prematuramente, a proclamação do regimem democrático".
Se hoje se comemora o Dia de Pinto Martins em Camocim, deve-se, portanto, à atitude dele de incluir a cidade no voo pioneiro que todos já sabem qual foi, visto que no planejamento inicial não constava no trajeto. Por outro lado, a memória das festas e homenagens aqui recebidas e a repercussão na imprensa da época, ajudou a solidificar Camocim e Pinto Martins, com relação ao seu nascituro, posto que o mesmo foi batizado três meses depois, (28 de
julho de 1892), na Igreja Matriz de Macau e também registrado no Cartório Civil daquela cidade potiguar. Desde cedo, o menino Euclides demonstrava ter uma inteligência diferenciada dos garotos da época. Desde os cinco anos de idade começou a estudar na escola pública
local.
Na próxima postagem retomaremos as histórias do voo inédito Nova Iorque ´Rio de Janeiro.
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